quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Caligrafia

"A internet me aproximou do mundo, mas me distanciou da vida" Medianeras

Querida Carta,

Há quanto tempo não nos vemos! Mal lembro a última vez em que expus meus sentimentos, por meio de ti, a alguém de corpo e mente, e coração. Escrevo hoje para lembrar-me da sensação de botar tudo pra fora, de ser compreendido com um silêncio e um afago, embora não sejas capaz de retribuir-me com este último. No entanto, agradeço a disposição em ouvir-me, mesmo que tal fato seja fruto da minha própria vontade. Só queria lembrar o quanto palavras endereçadas a alguém, escritas a punho com amor, raiva ou apenas polidez, podem causar emoções diversas. Acabo de assistir a um filme que me fez pensar sobre como a tecnologia, não sendo a única culpada, banalizou a intensidade dos sentimentos, que são expressos em letras-padrão, sem um pingo-no-i de pessoalidade. As palavras dirigem-se a todos e a qualquer um e mesmo aqueles que têm a quem endereçá-las, não o fazem. O poeta compõe, mas não há uma inspiração concreta. Não conheço sua caligrafia. Eu poderia pensar que pelo menos algumas daquelas palavras são endereçadas a mim. Mas não o faço. Se elas quisessem talvez dizer-me algo, deveriam estar direcionadas a mim, para que pudesse acolhê-las, entendê-las, rejeitá-las. Ouvi-las.
Não conheço sua caligrafia, mas adoraria conhecer.

Com amor,

Destinatário

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